21/11/2009 - 05h11
Por Patrícia Grogg, da IPS
Havana, 20/11/2009 – O impacto da mudança climática na saúde humana requer a promoção de novos enfoques de desenvolvimento, mediante programas de mitigação e adaptação coerentes com políticas que assegurem o acesso eqüitativo aos serviços sanitários. Essa foi uma das conclusões de um painel sobre o tema realizado no Fórum Global de Pesquisa para a Saúde, que começou segunda-feira e termina hoje em Havana, com participações de acadêmicos e especialistas de Brasil, Estados Unidos, Canadá, Suíça, Espanha, Austrália, México, Alemanha, Grã-Bretanha, Índia e Japão, entre outros países.
A mudança climática é uma oportunidade que todos temos, não apenas os pesquisadores, para fortalecer os sistemas de saúde pública com os recursos que estão disponíveis, afirmou Gilma Mantilla, do Instituto de Pesquisa Internacional para o Clima e a Sociedade, da Universidade de Columbia (EUA). Esta especialista, uma das participantes da mesa dedicada à “mudança climática, inovação e igualdade perante a saúde”, acrescentou que existem atualmente de 20 a 25 enfermidades infecciosas que podem ter uma alta relação com o clima, como malária, meningite meningocócica, dengue e influenza.
Mantilla disse também que, pelas tendências de mudança, dentre de 20 ou 50 anos haverá uma nova distribuição geográfica de diferentes doenças. Como exemplo, citou que o aumento das temperaturas pode gerar condições para o deslocamento dos vetores da malária para regiões onde essa enfermidade nunca foi registrada.
Um informe deste ano sobre financiamento da pesquisa e do desenvolvimento no âmbito sanitário, que circula na conferência, alerta que as populações mais pobres do planeta são sempre as mais vulneráveis diante das ameaças que representam os efeitos da mudança climática na saúde. As necessidades desses setores são as últimas a serem levadas em conta, reconhece o texto preparado pelo Global Forum for Heath Reserch, uma organização internacional independente com sede em Genebra que realiza estes encontros para promover o diálogo sobre pesquisas na área sanitária.
O informe alerta que a pesquisa para promover, proteger e restabelecer a saúde nesses segmentos vulneráveis das populações não pode ser considerado um luxo nem um aspecto secundário, mas “literalmente um assunto de vida ou morte”. Acrescenta que as disparidades em matéria de saúde entre os países ricos e pobres são significativas e, em boa parte, devidas à falta de investimento no desenvolvimento em geral e de melhorias no sistema sanitário para torná-lo mais eqüitativo e acessível a setores de escassos recursos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das instituições que apoio o Global Forum, concorda eu as repercussões do clima na saúde humana não se distribuirão uniformemente no mundo e aponta como “especialmente vulneráreis” moradores de pequenos Estados insulares, zonas áridas e costeiras densamente povoadas. Por sua vez, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) diz em seu informe anual apresentado na véspera que a mudança climática ameaça agravar a pobreza e pressionar grupos marginalizados e vulneráveis com dificuldades maiores.
“Os lares pobres são especialmente vulneráveis à mudança climática porque sua baixa renda lhes dá escasso ou nenhum acesso a serviços de saúde ou outros mecanismos mínimos de segurança social que os proteja contra as ameaças decorrentes das condições voláteis”, afirma o estudo. O UNFPA diz também que a mudança climática apresenta “potencial” para se contrapor aos tão duramente obtidos progressos das últimas décadas e o progresso para o êxito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) acordados pelos governantes em 2000 em sessão especial da Organização das Nações Unidas.
Os ODM propõem de maneira prioritária e prazo até 2015, tomando por base indicadores de 1990, erradicar a pobreza extrema e a fome, garantir a educação universal de meninos e meninas e reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna e combater o HIV/aids, a malária e outras doenças, além de garantir a sustentabilidade ambiental.
Cientistas especializados em clima concordam que o aquecimento do planeta se deve aos gases de efeito estufa lançados na atmosfera em consequência das atividades de populações humanas cada vez mais opulentas, particularmente nas nações industrializadas. O documento do UNFPA é divulgado pouco antes da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), que acontecerá de 7 a 18 de dezembro em Copenhague, onde se buscará chegar a um novo tratado de redução de emissões contaminantes após expirar o Protocolo de Kyoto, em 2012. (IPS/Envolverde)
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