quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Soluções climáticas devem ter foco nas comunidades




30/11/2009 - Autor: Fabiano Ávila - Fonte: CarbonoBrasil
Ao invés de uma grande solução global para as mudanças climáticas, um relatório do IIED e da New Economics Foundation afirma que a saída está em projetos locais e em um novo modelo de desenvolvimento, que valorize mais as pessoas que o crescimento econômico


A lógica não parece tão ruim: um mundo mais rico é por conseqüência melhor para todos. De uma forma geral, os países industrializados pensam que fornecer maneiras para o mercado crescer é a melhor saída para resolver os problemas globais, incluindo agora as mudanças climáticas. Já é fácil observar como boa parte das opções de combate ao aquecimento global surgem dessa visão e passam também pelo mercado, do REDD à venda de créditos de carbono.

Acontece, porém, que o enriquecimento do mercado nos Estados Unidos não necessariamente leva a uma condição melhor de vida para os habitantes do Burundi, por exemplo.

E é este tipo de pensamento equivocado que estaria rendendo soluções insatisfatórias para as mudanças climáticas segundo o relatório “Other Worlds are Possible – Human Progress in an Age of Climate Change”, publicado nesta segunda-feira (30) pelo Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED) e pela New Economics Foundation, a pedido do Working Group on Climate Change and Development, uma rede de organizações ligadas ao desenvolvimento e meio ambiente.

“Está claro que as respostas atuais para mitigação e adaptação são inadequadas e que o modelo de desenvolvimento seguido hoje vai apenas piorar os impactos das mudanças climáticas” escreveu o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, no prefácio do relatório.

O documento defende que as soluções devem considerar modelos econômicos mais regionalizados, com foco nas comunidades e os investimentos devem ser centrados em projetos que afetem diretamente as pessoas que mais sofrem com as mudanças climáticas.

Novos problemas, velhas soluções

Violência, sistemas de saúde e educação ineficientes e desigualdade social são algumas questões que são debatidas há décadas, e que segundo o relatório nunca foram abordadas da maneira correta.

O documento descreve como as mudanças climáticas e o desenvolvimento são interligados e como se seguirmos modelos econômicos não sustentáveis só chegaremos a efeitos negativos e ainda mais erros. O que os pesquisadores sugerem é uma alteração nas propostas de soluções para o fenômeno e a criação de um novo modelo econômico.

Para eles, o desenvolvimento não deveria depender tão estritamente do crescimento econômico, mas precisaria considerar fatores como a felicidade das pessoas e a qualidade ambiental.

“As antigas convicções crêem no crescimento global como uma panacéia, como se pudéssemos transformar capital natural em capital financeiro e que isso nos liberaria de nossa dependência do meio ambiente. Com as mudanças climáticas nós podemos ver como essa idéia é míope, distorcida e não sustentável”, detalha o relatório.

Segundo o documento, ao invés de se encorajar decisões globais, seriam as iniciativas locais que deveriam ser incentivadas e mais debatidas. Os pesquisadores apresentam alguns projetos bem sucedidos como o estabelecimento de uma rede de agricultura orgânica nas Filipinas e propostas diferentes do Produto Interno Bruto (PIB) para medir o desenvolvimento.

O Butão, por exemplo, criou o Gross National Happiness (algo como Felicidade Interna Bruta) e a New Economics Foundation o “Green New Deal”, que propõe uma reestruturação do sistema financeiro para lidar com as mudanças climáticas, a crise econômica e o declínio da produção do petróleo ao mesmo tempo.

“Todos os governos que irão a Copenhague dizem que querem parar o aquecimento global. Ainda assim, todos eles ainda promovem políticas econômicas que são a garantia de um desastre (...) Sem um novo modelo econômico, qualquer acordo climático irá fracassar. Este relatório mostra que esses novos modelos já existem. O desafio agora é abandonar a antiga visão que trata o planeta como um negócio em liquidação e as pessoas como um ineficiente fator de produção”, concluiu Andrew Simms, um dos autores do relatório Other Worlds Are Possible.

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